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Aline Abreu. Tecnologia do Blogger.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Ensinando crianças a se odiarem

 Outro dia, conversando com minha irmã, que é atriz, ela me contou uma história que me deixou muito, mas muito chocada mesmo.
Para que vocês entendam essa história preciso dizer que assim como eu, minha irmã tem a pele bem branca e cabelos bem lisos(ou seja, está em um grupo de privilégio e só seria mais privilegiada se fosse homem).
Ela estava me contando que um dia acompanhou uma amiga, que fazia estágio em um abrigo de crianças(não sei se o nome orfanato é correto, pois nem todas as crianças são órfãs na verdade). Essa amiga dela dava aula de teatro. Ela sentou para conversar com uma garotinha, que tinha chego recentemente no abrigo, junto com a irmã de colo. Uma garotinha negra, de cabelo crespo e de apenas 3 anos. Essa garotinha não queria participar das atividades e mal respondia para minha irmã.
Querendo puxar assunto com a pequena, minha irmã a elogia e diz que ela é linda e para a surpresa da minha irmã a menina olha para ela e diz: Eu seria linda se tivesse o cabelo igual ao seu. Minha irmã ainda tentou argumentar, dizer que o cabelo dela era bonito e ela só repetia que era mentira, que o cabelo dela era feio, duro e ruim.
Tentando mudar de assunto, minha irmã disse que a cor da pele dela era lindo e perguntou: "troca comigo" e a menina respondeu: "Só se você trocar de cabelo comigo".
Minha irmã então tentou ir por outro rumo e falar de outras coisas.
No mesmo dia, mais tarde, ela foi pegar uma menininha no colo, um bebê e uma das monitoras disse que não era para pegar para que a criança não se acostumasse e depois não ia mais querer dormir sem colo.
Então eu fico pensando, que sociedade é essa que faz com que uma criança odeie seu próprio cabelo?
Que sociedade é essa que acha que um bebê não pode ganhar colo para não atrapalhar os outros?
Ser contra a legalização do aborto é muito fácil, quando depois que a criança nasce ela é maltratada, excluída, ensinada a odiar o próprio corpo, ensinada que não merece amor e carinho e que a vida é muito difícil?
Não entendo como uma criança de 3 (três!!!!) anos pode falar que o cabelo dela é feio, ruim e duro. Nenhuma criança deveria se odiar. Crianças deveriam brincar a aprender que a beleza tem várias faces e que não existe cabelo ruim, pele ruim, olhos ruins. Deveriam aprender que pessoas são iguais e que não existe quantidade de melanina, orientação sexual, tipo de cabelo, gênero ou qualquer fenótipo/genótipo que diferencie o caráter de alguém. 
Crianças deveriam aprender a amar e serem amadas.
Mas ainda assim, tem pessoas que acreditam que é melhor que crianças vivam sendo maltratas e muitas vezes mortas do que que uma mãe escolha não ter um filho.
Muitas pessoas acham um absurdo adotar uma criança "se você pode ter a sua", afinal você não sabe o que aquela criança carrega com ela(sério, como assim????)
Não sei nem o que pensar.

Feminista... eu?




É engraçado que eu percebi que assim como a Lola eu sou feminista a muito tempo. Não sei se desde criancinha, mas com certeza absoluta desde a adolescência ou pré-adolescência(apesar que eu nem sei se esse termo é correto).
Como eu sei disso? Bem, eu nunca fui muito dada a brincadeiras só "de meninas", eu sempre gostei de todo tipo de brincadeira, brincava de roda, pulava corda, esconde-esconde e pega-pega, joga peão, bolinha de gude e batia figurinha. Eu andava muito com os meninos e gostava de jogar futebol, basquete e ping-pong.
Mas tem algumas coisas que eu lembro que não achava justo: ninguém dizia para os meninos que era feio setar de perna aberta, mas pra mim, todo mundo falava, mesmo que eu estivesse de calça; perguntavam aos meninos se eles tinham "namoradinhas" na escola e pra mim, perguntavam se eu tinha muitas "amiguinhas", entre outras coisas.
Uma outra coisa que me marcou muito foi uma vez que um amigo muito querido foi ao mercado comigo e eu sai de lá cheia de sacolas. Ele queria de qualquer jeito carregar as sacolas e eu então disse para ele: "Se fosse o fulano(um outro amigo nosso) que tivesse cheio de sacola você ia querer levar?" e ele respondeu: "Mas fulano é homem". Eu fiquei brava e disse pra ele: "Sou mulher, não tenho problema nos braços ou na coluna pra não poder carregar 4 sacolas!". Ele ficou bem bravo e disse algo como "o que as pessoas vão pensar?".
Esse amigo, é o que os mascus chamaria de cara colocado na "friendzone". Ele era super bacana, me escrevia poemas, ia na minha casa todos os dias, me deu flores, mas para mim, ele era apenas um amigo. Ele é lindo, um homem e tanto. Tinha lá seus problemas e como eu disse a ele várias vezes, ele não batia muito bem. Eu juro que poderia até ter "ficado" com ele, mas com 15 anos eu só queria ficar com pessoas por quem eu estivesse apaixonada e eu estava apaixonada pelo meu melhor amigo, que era também o melhor amigo dele. Muita coisa rolou, muito tempo passou, eu comecei a namorar,com outra pessoa, que não era nenhum dos dois, um cara superbacana também, que durou vários anos. Um cara que hoje é meu amigo. Quando esse meu namoro terminou eu já tinha um conceito diferente para "ficar" e não precisava mais estar apaixonada e comecei a me divertir, me conheci muito, me apaixonei, comecei a namorar(e ainda estou até hoje).
Eu fico pensando quantos caras achavam que eu estava apenas jogando-os nessa tal zona da amizade, pois eu adorava a companhia de rapazes, adorava estar com eles. Quando eu tinha lá meus 15, eu andava com um grupo com vários meninos, que eram das mais variadas personalidades. Um deles tem o abraço mais gostoso que eu já recebi. Um outro era super atencioso, outro era divertido, engraçado. Tinha o revoltado, o por quem eu era apaixonada, o meu amigo que achava que eu era "feminista demais" e que discutia altamente comigo por isso.
Vários outros homens passaram na minha vida. Alguns foram só grandes amigos, outros, foram pessoas com que eu tive algum outro tipo de relacionamento, mas em sua maioria, esses homens continuam me respeitando e sendo meus amigos, mesmo a distância.
Sempre evitei homens que achassem que alguém livre era "vadia" ou "puta".
Participei de altas discussões de gênero com esses caras e com muitas outras pessoas.
Sempre tive amigas e nunca quis competir com elas. Achava isso uma babaquice tremenda. Outro dia, estava conversando com minha melhor amiga, uma linda, que mesmo morando longe de mim é uma das pessoas mais especiais da minha vida, e estávamos lembrando de como, coincidentemente, nos apaixonávamos sempre pelos mesmos caras. Foram poucos que não foram assim. Mas isso era altamente normal. Andávamos com as mesmas pessoas, tínhamos os mesmos gostos, etc.
Tem várias outras garotas que eu convivia e raramente eram com garotas que chamavam as outras de putas ou que julgavam pela aparência.
Tive vários problemas com garotas que pensavam diferente de mim.
Tive lapsos de preconceito e tenho até vergonha de dizer que um dia classifiquei homens em: "Para namorar" e "para se divertir". Os mais sérios e por quem eu me apaixonava eram pra namorar e os outros "para se divertir".
Eu estudei no meio do mato(uma escola agrícola) quando ninguém acreditava que uma menina "normal" pudesse aguentar o tranco.
Eu sempre amei matemática,contra todas as expectativas, afinal, existem estudos que mulheres não são tão boas em exatas.
Trabalho em uma profissão tipicamente "masculina".
Eu sempre fiz o que quis, por que achava que isso era meu direito e pronto.
Sempre fui pessoalmente contra o aborto, ou seja, eu não faria um, mas sempre achei que quem quisesse fazer, deveria poder. Eu nunca quis ficar grávida. Ser mãe nunca foi uma das minha metas, sempre pensei mais em carreira.
Eu nunca amei rosa. Minha cor favorita é azul claro. Eu sempre usei rosa por que minha mãe gostava e eu sempre queria roupas parecidas com as dela. Eu sempre admirei minha mãe(que é dona de casa, costureira e uma mulher incrível).
Não sei quando comecei a ser feminista "de verdade" e de longe sou uma ótima feminista, mas procuro sempre refletir sobre o que eu faço, todos os dias.
Fui justa? Discriminei alguém? Pratiquei slutshaming? Fico me lamentando por que o Brasil é imperfeito, como qualquer outro país do mundo? Fiquei reclamando de preços injustos, dizendo que nosso país está ruim ou falando besteiras de leis que eu nem li?
Para se tornar uma pessoa melhor é necessário refletir, tirar conclusões e mudar.


 

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